29 maio 2009

Elogio

Por vezes penso que as pessoas de fora são bem diferentes das daqui. Por vezes penso que são mais simpáticas, mais especiais, menos mesquinhas e implicativas. As pessoas daqui às vezes parecem tão parvas, parece que não dão valor àquilo que têm. Às pessoas que têm. E é por isso que outras pessoas me suepreendem. Por serem diferentes. Mais calorosas, mais simpáticas, mais amigáveis.
Mas não é disso que quero falar hoje. Pelo contrário.
Hoje quero fazer um elogio não aos que estão longe, mas àqueles que estão perto de mim. Esses que, sendo de fora para os que para nós sejam de fora, talvez também sejam simpáticos, queridos e extraordinárias pessoas para eles. E se calhar só não o são uns para os outros por passarem demasiado tempo juntos. Quando passamos muito tempo com uma pessoa podemos aperceber-nos não só das suas qualidades, mas também dos seus defeitos. Quando convivemos muito com uma pessoa, quando, talvez, nos tornamos amigos, temos confiança suficiente para dizer o que pensamos dessa pessoa. Para dizer que ela não é um todo mar de rosas, que por vezes também falha. Para pensar que ela não é de todo perfeita. Para discutir com essa pessoa às vezes até à exaustão. Mas uma grande verdade é que não discutimos nem nos irritamos com as pessoas que não conhecemos, com quem não temos uma relação. É preciso que haja relação para poder haver até uma discussão válida. São as pessoas que estão perto de nós, com quem nos relacionamos, que nos fazem rir. Mas sobretudo são elas que nos fazem chorar. Uma pessoa que não conhecemos não nos magoa, não nos irrita assim tanto por ser menos correcta desta ou daquela vez. Mas aqueles de quem estamos perto, esses sim, esses não nos são indiferentes. Esses são aqueles que nos afectam, que nos incomodam quando as coisas não estão bem. E porquê? Porque gostamos deles. As pessoas de quem mais gostamos são aquelas com que também discutimos, também implicamos, pelas quais também choramos. São elas que mais nos magoam porque são elas de quem mais esperamos. Dói muito mais ser magoado por quem gostamos, do que por quem não gostamos. E apesar de todos os momentos maravilhosamente extraordinários, as amizades não são perfeitas, as pessoas não são perfeitas.
E é por isso que hoje quero fazer um elogio a todos aqueles com quem contacto no meu dia a dia. Não aos seus defeitos, mas a tudo aquilo o que faz delas pessoas especiais, extraordinárias, únicas.
À R., que sempre esteve aqui ao lado, apesar de todas as desavenças. Que por vezes se arma em parva (sim, ela sabe que às vezes é meia totó), mas que tanto nos faz rir com os seus desvarios, com o seu apetite insaciavelmente devorador. Até as suas bocas parolas e invejosas sobre toda a gente são especiais. Porque está sempre a rir, tirando nos dias em que acorda com aquele mau-humor extremo de cortar à faca. E porque no fundo ela é muito mais sentimental do que aquilo que por vezes mostra. Porque, no fundo é tão única e essencial.
À M., que pensa sempre que tem razão, e que consegue ser muito irritantezinha, muito parvinha, mas que é uma louca incurável que manda gargalhadas que se ouvem na China, e que com essas mesmas gargalhadas nos põe também a todos a rir à gargalhada. Que também nos apoia quando é preciso e também nos diz as verdades. Que é uma pessoa que se dá bem com todos, exceptuando os seus odiozinhos de estimação. Que é uma incurável louca depravada. Que, apesar de às vezes até parecer indiferente, tem dentro de si um sentimento extraordinariamente grande e arrebatador. Um impulso de vida.
À M., que é a pior disfarçada ;). Que é uma querida, que tem um ar angelical e não entra em grandes discussões (tirando uma única vez de que me lembro). Mas que no fundo é uma doida e uma maluca. Que gosta de fazer as coisas bem feitas. Que é aquela sobre quem não há muito para dizer, porque aquilo que ela é já diz tudo.
À M., que às vezes nos consegue irritar completamente com a suas maniazinhas. Que é uma taradona, mas só quando mais ninguém está a ver. Que nos faz delirar com as suas ideias mirabolantes que de vez em quando lhe surgem naquela cabeça doida e com a suas piadas totós. Que também consegue ser uma querida!
Até à A., que apesar de tar sempre a implicar comigo e de estarmos sempre a discutir, também sabe ser divertida, galhofeira e acolhedora. Que pode ser que um dia venha a perceber que não a odeio assim tanto.
À S., que mesmo não estando sempre tanto tempo comigo, me apoia quando preciso. Porque com ela posso contar. Que, apesar de já se ter zangado muitas vezes comigo por a repreender por certas coisas, acaba sempre por me dar razão. Que é uma companheira para a vida, porque já passámos juntas momentos inesquecíveis.
E mesmo à A.R., que, mesmo estando longe, nunca deixa de estar bem pertinho do coração. Que é sempre tão surpreendente como no dia em que a conheci. Que tem sempre uma resposta, uma palavra amigável. Que tem uma loucura desmedida. Que fala sempre com sabedoria e com o coração. Que sabe sempre como me animar. Que me conhece como ninguém.
E também aos meninos. Ao B., ao R., e aos outros, que apesar de tudo não deixam de ser especiais e incríveis.
E a todos os outros que estão presentes na minha vida, que apesar de tudo não deixam de fazer de mim aquilo que sou, não deixam de fazer da minha vida o que ela é, não deixam fazer parte do que são os momentos que vivo.
Porque estas coisas às vezes também são precisas de se dizer.
A todos estes, que por cada momento se tornam únicos. A todos estes, que tornam cada momento um momento especial vivido. A todos estes, a quem a maior parte das vezes não damos o devido valor, por estarmos demasiado acostumados a eles. A todos estes que são também a nossa própria vida, porque, sendo eles tão especiais e únicos cada um da sua forma, fazem tudo aquilo que seria diferente se eles não fossem eles.
A vocês. Elogio-vos.

9 comentários:

  1. Deves-de pensar que me fazes chorar, deves! :P

    Apetite insaciavelmente devorador? Podia ficar ofendida com esta!

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  2. Rita, um elogio não pretende ser uma ofensa, mas tá bem, tu é que sabes! Espero não ser mal interpretada... :D

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  3. Os teus amigos deviam fazer-te um altar com tamanho elogio :D

    Beijo ;)

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  4. bem desta vez estava com mais atenção :)
    Realmente escreves muito bem, e hoje então foi só posts....
    um dia especial, mesmo?

    Bjoca ***

    P.S: Para quando uma inscrição n'"o meu blog dava um program de rádio"?

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  5. Ahah! Não me parece, Wilson ;)

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  6. Dinis, não creio que seja para já :P

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  7. Querida Amora:
    A hora já é avançada e por isso hoje apenas te deixo umas palavras de Charles Chaplin, como agradecimento... e amizade!!!

    "Preciso de alguém que me olhe nos olhos quando falo e, ainda que não compreenda, respeite os meus sentimentos.
    Preciso de alguém que venha brigar ao meu lado sem precisar ser convocado. Alguém amigo o suficiente para dizer-me as verdades que não quero ouvir, mesmo sabendo que posso odiá-lo por isso.
    Nesse mundo de cépticos , preciso de alguém que creia nessa coisa misteriosa, desacreditada, quase impossível: a amizade.
    Preciso de um amigo que também seja companheiro, nas farras e pescarias, nas guerras e alegrias, e que no meio da tempestade, grite em coro comigo: “nós ainda vamos rir muito disso tudo.” E ria muito.
    E nessa busca empenho a minha própria alma, pois com uma amizade verdadeira, a vida se torna mais simples, mais rica e mais bela..."
    = Charles Chaplin =

    Beijinho muito grande
    A.R.

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  8. eeeee tanta resposta negativa adriana....


    um destes dias, vais a ouvir a RC, e ouves o teu blog xD


    hihi

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