18 dezembro 2007

Relutâncias...


Acordo de manhã e vou até à janela... Olho tristes as gotas soltas que escorrem pela vidraça. Penso no que seria se fosse o que queria ser, e no que não seria se não quisesse ser o que sou. Afinal, se não fosse o que sou, seria o que não sou! Então, devemos ser quem somos ou tentar ser o que gostaríamos ser, mas não somos? Se tentamos ser o que gostaríamos, estamos a tentar ser o que não somos. E será que o que faz de nós quem somos é o que somos ou precisamente o que gostaríamos de ser? A nossa essência diz respeito àquilo que fazemos, às nossas atitudes, ou àquilo que esperaríamos fazer se a vida tivesse tomado outros rumos e outras proporções, áquilo que gostaríamos de fazer mas por um motivo ou por outro não fazemos, aquilo que esperamos de nós próprios mas que acabamos por nunca ser? Temos desejos e ambições que todos, à excepção de nós próprios, desconhecem. Coisas nossas, próprias, do nosso interior. Coisas que desejamos ver realizadas, mas que temos de aguentar constantemente por não se realizarem. Aquele desejo de voar, de correr e saltar, de rir... O que é senão nós próprios? O nosso espírito, a nossa essência? Essa sensação de felicidade infinita que não existe mas que desejamos ardentemente poder viver. Essa plenitude que está no nosso interior e que desejamos ver concretizada no fulgor do riso.
Por vezes sinto essa necessidade interior, essa força, essa vida mágica. Há uma vontade de correr, de abrir os braços e deixar-me ir, por entre árvores, por entre flores... Deixar que o sol nos bata no rosto e nos dê vida... Não se explica... Mas a verdade é que todos o sentimos. Cada qual da sua forma, cada qual da maneira que é. Se vem do nosso interior, então é parte do que somos. Se não o que somos, ou o que gostaríamos de ser. Eu, olho pela janela e vejo a chuva, mas espero o sol... Vejo as gotas que caem , mas espero os raios que iluminem. O céu cinzento será de novo azul na Primavera. Esperamos o nascer do sol brilhante, como esperamos poder rir, correr, cantar, gritar, sem que ninguém nos impeça, sem sequer que alguem nos veja ou nos oiça. Apenas queremos sentir... Não sei o quê, mas sentir. Não sei de onde vem essa necessidade, essa vontade.. Apenas sentimos que queremos sentir. Nesses momentos queremos apenas ser nós, ser felizes. Eu olho pela janela e sinto falta de sentir esse sentimento. A chuva bate triste os rigores do Inverno, e há uma falta estranhamente incompreensível. Não sei de quê, nem porquê. Não sei de onde vem, nem para onde vai. Apetece-me apagar a chuva e pintar o sol. Apetece-me poder fazer tudo o que me faz sentir realizada, sem qualquer imposição. Apenas quero sentir ao meu livre gosto. Quero ser quem desejaria, e quero desejar ser quem sou. Quero poder sorrir, poder fazer os outros felizes, poder viver num mundo de fantasia onde só existem coisas boas, onde mesmo os nossos defeitos se trasformam em virtudes. Mas olho pela janela e a chuva continua a cair. O que vai em mim ninguém ouve, ninguém entende. É meu. De mim e para mim. É um desejo incosciente que todos sentimos. Não quero ser como sou, mas quero apenas ser quem sou... Um dia hei-de viver essa plenitude de felicidade. Ainda que em sonhos, vivê-la-ei. Ainda que imaginando, serei feliz. Viverei sendo quem sou, desejando ser mais viva e mais sorridente, mais confiante. Farei sorrir os outros. Sorrirei eu própria. Chorarei muitas vezes de alegria. Correrei. Sentirei o sol bater no rosto. Continuarei a pintar o sol por detrás da vidraça... Ainda que em sonhos... Ainda que em vontades... Ainda que entre dúvidas e decepções... Ainda que imaginando, assim serei, talvez, feliz!