30 maio 2009

O sonho

A casa estava vazia. O lume apagado, o resto das brasas no meio da cinza ainda na lareira. Estava descalça, e caminhava com os pés sobre a tijoleira fria. Procurava algo. Vou encontrar? Não sei. Parece não estar em nenhum lado. Subi as escadas. Nada. As divisões vazias. Cheias de nada. Procurava alguém. Procurava-te a ti. Alguma poeira sobre a mobília. Nem um sinal teu. Onde estás? Não sei. Não te encontro. Talvez estejas à minha espera no jardim. Desço as escadas, saio para a rua. Procuro por entre as flores. Procuro no roseiral. Procuro junto à pequena horta que tinhas plantado. Nada. Nem um sinal teu. Talvez na fonte, vou até lá. Nada. Está seca. Subitamente o calor aperta, sinto-me sufocar. Parece quase que não consigo respirar. Sinto-me desorientada. Preciso de ti aqui. Corro novamente para casa, para procurar melhor. Perco-me. Não encontro o caminho de volta a casa. O nosso jardim transformou-se num labirinto. Corro, caio, levanto-me, corro. Algo me persegue. Preciso de ti! Olho para trás. Não está lá nada. Mas sinto. Preciso de sair daqui. Preciso de te encontrar. Sinto-me desesperar. Saio do labirinto, entro novamente em casa. A porta estava aberta. Não fui eu que a deixei aberta. Terás sido tu? Não. Não foste tu. Não a deixarias aberta para mim, antes me terias imediatamente procurado. Já não me sinto segura aqui. Onde estás? Onde estás? Não vês que preciso de ti? Fecho as portas à chave. Preciso de ti. Não me sinto segura, preciso de ti. Subo novamente as escadas, a correr, procuro por todo o lado. Abro armários e gavetas em busca de algo, de um sinal teu. Nada, está tudo vazio. Foste embora? Abandonaste-me? Não. Não o farias. Então porque está tudo vazio? De repente, a sala também está vazia. Está tudo vazio. A casa está completamente vazia, paredes brancas, chão frio, a gelar-me os pés. Onde estás?! Sinto a cabeça à roda. Onde estou? Esta não é a nossa casa. Não pode ser a nossa casa. Onde estão as minhas coisas? As tuas coisas? Está escuro, vazio e escuro. Lá fora já não há sol. Está tudo escuro. Começa a trovejar. Os relâmpagos caem sobre a casa. O barulho atordoa-me. Tenho medo. Não te encontro. Onde estás? Não te encontro… Não te encontro…
Acordo. São 6h20 da manhã.

1 comentário:

  1. Alexandre Sousa, S.Miguel, Açores31/05/2009, 00:29:00

    E assim nasce uma obra.. e assim nasce um escritor...

    O texto prende o leitor... que lê, lê e no final fica com água na boca... apetecia ler mais... frustado por não ter passado de um sonho... porque se fosse realidade talvez fosse mais comprido!

    Gostei Adriana... muito mesmo... e já agora aproveito esse meu primeiro comentário neste mensagem para te dizer que o blog no geral está muito bem elaborado! Fantastico!


    Parabéns e continua!

    Um beiiijiiiim... XL do Açoreano
    Alexandre Sousa

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