30 novembro 2012

Na porta ao lado...

Chegou a chuva de Novembro.
Nesta rua o sol escondeu-se atrás das nuvens. Em todas as outras ruas da cidade há um pouco de sol, mas não aqui. Sei que estás mesmo aqui ao lado. Mas já não queres saber, já não te importa. Arrefeceste como as ruas da cidade. Não me sorris, não dizes uma palavra. Estás tão perto, e estás tão longe...
Se não morasses na minha rua, não seria estranho ver-te tão pouco. Mas estás mesmo aqui ao lado. Da tua porta à minha vão poucos passos. O vento está cada vez mais forte e gela-me a alma. Não deveria importar-me, mas dói-me o coração. Estás mesmo aqui ao lado e nem sequer te vejo. Mas bem sei que estás ai. Achavas que não iria sentir falta de quando fazia sol e passeávamos pela rua, ou das horas de conversas à luz do luar? Pois é, agora as nuvens esconderam o sol e a lua e só sinto frio. A tua rua é a minha rua e nunca passo por ti. Sabes qual é a minha porta, mas já não vais bater. Se fosse paixão suspiraria só por te ver. Assim o meu coração chora por não ter nem um sinal, e tu não queres saber. Amor não é só coisa de casal apaixonado. E dói essa tua indiferença, esse teu ar gelado.
Vais continuando no teu mundo, e eu sinto saudade do teu mundo, do que me mostraste e agora não posso tocar. Desculpa se sou fraca e não consigo pôr uma capa no coração. E por vezes só me resta uma pergunta: porquê?! Para quê dar tanto, para depois dar tão pouco? Talvez a culpa seja minha. Talvez um dia também venhas a sentir saudade. Talvez quando a chuva se for e o sol voltar a raiar. Talvez seja preciso a tempestade passar. Mas por enquanto vai chovendo, e eu continuo a sentir que sou perfeitamente dispensável.
Esperemos até que a chuva tenha ido. Ou então, podemos sair à rua sob a imensidão de nuvens. Podemos caminhar pelo chão molhado, e por entre o vento e a chuva forte, só preciso de um abraço para ter o coração mais quente.
Passou Novembro. Mas o Inverno ainda nem começou... Nesta rua a chuva continua a cair.


27 novembro 2012

No title.

Percebi uma coisa. Algo que talvez mude a minha forma de me ver no mundo. Talvez se me mantiver ciente disto, aprenda a lidar com certas coisas.
Uma vez, disseram-me que gostavam muito de mim, "mas quando estava de bom humor". Na altura, achei injusto, frio e desagradável, ofensivo até, que não é coisa que se diga aos amigos. E talvez o seja um pouco. Talvez seja o egoísmo próprio latente no ser humano. Mas só hoje consegui olhar para isto de uma outra forma. A verdade, é que ninguém gosta de pessoas deprimidas, e sobretudo de pessoas depressivas. Ninguém sabe como lidar ao certo com as crises e ansiedades dos outros. E, quando temos os nossos próprios problemas, incómodos e irritações ainda menos. E como eu costumo dizer, "as pessoas não são iguais". Há quem lide melhor com isso, há quem tenha um coração mais aberto, e há quem se sinta a si próprio por momentos tão desorientado com a situação que não sabe bem o que fazer, a não ser manter uma certa distância dita saudável.
Hoje, percebi o meu problema: não perceber e não saber lidar com as pessoas que não percebem e que lidam mal com isto. É um facto. Há que aceitá-lo, e há que aprender a contornar isto. Hoje, percebi como as pessoas gostam do lado bem disposto e brincalhão, mas a maior parte das vezes não suportam o lado depressivo, irritadiço e mal  disposto. Nem eu própria, para dizer verdade. Daí muitas vezes entrar em conflito comigo própria... Às vezes, acho que me odiaria a mim própria e não teria paciência... Afinal, até é compreensível a reacção dos outros. Sou aquilo que consideram uma "pessoa stressada". Mas sou mesmo assim, alarmada e ansiosa com tudo o que me rodeia e me importa. Se isso faz de mim uma "pessoa stressada"? Bem, não sei... Talvez faça, ou talvez não. Por ficar ansiosa com algo, não significa que ache que o mundo vá acabar por causa disso. Mas também não é nisso que quero pensar agora.
Percebi que não posso ficar tão magoada. É perfeitamente desculpável. As pessoas não são iguais. Embora ache que muitas vezes cada um pudesse fazer um esforço para entender, ou pelo menos aceitar os comportamentos mais descontrolados dos outros, isso não quer dizer que não possa aceitar o facto de não conseguirem lidar com isso. Agora que percebi verdadeiramente o problema, posso trabalhar na solução: não deixar que o meu "lado lunar" prevaleça sobre o lado positivo e alegre. Talvez não seja tão fácil fazer como dizer. Mas, sem tentar, é que não vamos a lado nenhum!
Mas engraçado é como todas estas coisas surgem dentro de mim como uma revoada, no seio de uma junção de várias situações, reflexões e vivências. E, de repente, parece que muita coisa encaixa. As peças do puzzle juntam-se, encaixam no sítio onde pertencem. E, de repente, percebo que estou viva, que estou a viver!

26 novembro 2012

Paz no coração

Por vezes, há alturas em que não consigo descansar. O meu cérebro não pára. Vai buscar todo e qualquer pensamento que possa existir, sobre coisas absurdas ou não. Outras, porém, o problema não está só (porque infelizmente também continua a passar por ai) na cabeça. Às vezes, vem do coração.
Tenho a mania de pensar em coisas que não devo, e por demasiado tempo. Ou talvez deva pensar nelas. Talvez não deva é martirizar-me, estar sempre a pensar nelas, de modo a que me afecte a concentração, a paz de espírito, o normal funcionamento do meu organismo, como se tivesse cometido um crime que não me deixa dormir de noite. Se há quem ache que não penso nas coisas, a verdade é que é precisamente o contrário. Penso tanto, que talvez chegue a conclusões e sensações erradas.
Penso também no quão estúpido é deixar que me afecte. Não quero que me afecte. Não me quero importar com certas coisas. Mas será que basta não querer? Que basta querer não pensar? Não quero. Mas o meu coração não me deixa não pensar. Magoa-se facilmente, e irrequieta-me o espírito. Será que basta querer não sentir? Será que posso fingir que não sinto? Por mais que pense que não posso deixar-me afectar, continuo sem paz no coração.




Antes, eu achava que haveria sempre uma forma de resolver as coisas. "Tinha que ser". As coisas não podiam simplesmente ficar "assim". E insistia, e insistia, e tentava, e errava. Talvez continue a errar. Mas também aprendi que às vezes o único remédio é o tempo. Há que deixar as coisas seguirem o seu rumo natural. O que não é, não podemos forçar. Talvez seja mesmo o tempo a pôr as coisas no seu lugar. E se não vão para o lugar, é porque não é lá o lugar delas, ainda que nos pareça. E é disto que tenho que ter consciência. Não importa importar-me. Nada vai mudar, se não tiver que mudar por si. Portanto, só me resta descansar o coração e esperar. Pena que não seja tão simples como querer. Mas vou fazer um esforço. Vou tentar encontrar essa paz. Como, não sei ao certo. Mas tenho uma ideia de como poderei lá chegar...
Quero paz. Quero seguir em frente a cada momento, sem olhar para trás. Ou sem ficar presa ao que está para trás, trazendo apenas comigo, além das boas recordações, as boas lições. Crescer. talvez um coração facilmente perturbável seja sinal de susceptibilidade, mas não creio que seja sinal de fraqueza. "Porque, quando sou fraco, então é que sou forte." Há que pôr o coração ao largo. Há que aprender a ultrapassar certas situações que mexem connosco cá dentro. Talvez só lá vá com o tempo. Talvez com o passar do tempo vá deixando de ser preciso tanto tempo. Talvez o meu coração se torne mais robusto. Ou talvez apenas aprenda a viver com a sua susceptibilidade. Talvez seja mais forte que aquilo em que às vezes acredito. Afinal de contas, ninguém conhece ao certo até onde vai a sua verdadeira força, pois não?

25 novembro 2012

Quando o ritmo abranda...

E é quando o ritmo abranda que, por vezes, me sinto mais só.
Sozinha e distante...
A saudade aperta, e dói o coração.

Mas, como tudo na vida, "amanhã" já passou. Há alturas e alturas...

19 novembro 2012

A falta que me fazem ou Elogio III



Hoje senti-me feliz. Entrei em casa com uma alegria espontânea, enquanto uma série de pensamentos me revolvia a mente. Senti vontade de cantar e dançar, e cantei e dancei sem que ninguém visse. Não me importa que todos o leiam, ou ninguém o leia.
Senti-me feliz, porque senti a falta que me fazem. Quem? Aqueles que pertencem à minha vida. Não vou enumerar nomes, nem tão pouco descrever na perfeição este ou aquele. Só quero expressar a minha gratidão para com aqueles que vão traçando cada pincelada na tela que sou. São as relações que criamos que nos moldam e nos fazem crescer. São eles, no fundo, a razão para nos fazer sorrir.
Os grandes e os pequenos, os altos e os baixos, os velhos e os novos, não importa. Não importa se nos vemos todos os dias, ou não nos vemos há anos. Não importa se passam o tempo a elogiar-nos ou a criticar-nos. Os que nos sabem chegar ao coração. Os que nos "dão na cabeça" e nos fazem pensar. Os que gozam connosco só para nos irritar. Aqueles com quem trocámos planos secretos, ou aqueles a quem emprestámos ou nos emprestaram peças de roupa. Aqueles que são cúmplices dos nossos disparates, e os que não nos deixam fazer disparates. Aqueles com quem não conseguimos estar sem mandar umas boas gargalhadas. Aqueles com quem já chorámos e aqueles a quem já limpámos lágrimas. Aqueles com quem já corremos, aqueles com quem já ficámos parados durante horas. Aqueles com quem já passámos horas na conversa ou noites acordados. Aqueles que fazem da sua casa a nossa casa. Aqueles de quem fazemos de nossa casa a sua casa. Aqueles que têm sempre palavras sábias a dizer. Aqueles que dizem mais disparates que coisas acertadas. Os que estão tristes, e os que estão contentes. Os com quem vimos desenhos animados, e os que viram outros desenhos animados. Os que são brancos, pretos, amarelos, azuis, verdes ou cor-de-rosa. Os que vêm de Vénus, de Marte, ou de Plutão (que já nem é planeta).
Não importa quantas vezes nos zangámos. Nem quantas discussões tivemos, nem em quantos assuntos não concordamos. Não interessa quantas vezes fizemos as pazes. Não importa se temos muitas coisas diferentes, ou muitas coisas iguais, ou as duas coisas.
Hoje, pensei naqueles a quem chamo amigos. Pensei em como são importantes, em como por vezes há uma enorme vontade de conversar, ou apenas de olhar. De dar um abraço, ou um beijo. De amar. Pensei na falta que me fazem. E no quão feliz sou por ter saudades. Feliz como se dançasse com paixão.
Hoje, mais uma vez pensei em como me posso considerar uma pessoa feliz. Com altos e baixos. Com momentos de risos descontrolados, e com momentos em que me vou abaixo. Mas feliz!
Não importa se tudo parece óptimo, ou se nem sempre tudo é bom. Há os que vão, e os que ficam. Importantes não são os que vão. São os que ficam.