03 agosto 2009

A casa #2

Uma imagem... Duas persongens. Até duas histórias. Mil histórias. É essa a vantagem de escrever um pequeno texto e não um livro: deixa que cada um construa a história à sua maneira. Alguém decidiu pegar nesta história e recontá-la. Vista pela outra personagem. Um cena, duas personagens. Uma cena, duas histórias diferentes, E quantas mais se quiser. Aqui fica a versão (contada pelo outro perdonagem) do Rui Pedro:


Telefonara-me na noite anterior. Não queria voltar sozinha à casa, explicou-me. Partimos de manha cedo e a viagem foi longa e animada, mas o assunto da casa não foi abordado.
Emudeceu quando estávamos perto de chegar.
Estacionei o carro junto ao grande portão de ferro. Sempre me lembro dele um pouco enferrujado, mas nunca o vira fechado. Ela não voltava lá há cerca de três anos e eu há mais de vinte.
O jardim estava desprezado, mas mantinha a sua dignidade, pela presença de grandes árvores que o compunham e nos cobriam com as suas largas copas. Ela avançou para a porta com o seu molho de chaves, mas no momento de introduzir a chave, parou. Estática. “Não consigo, abre tu”, fiquei surpreendido com tal exclamação, mas peguei no molho de chaves sem dizer nada. Era fácil saber qual a correcta, a maior e mais antiga.
Abri a porta. Entrei lentamente, sem fazer barulho, como se não quisesse acordar alguém, que eu tinha a certeza que não existia há muito tempo.
Tudo me parecia mais pequeno do que aquilo que lembrava, apesar da sua grandeza.
Lembrei-me do cheiro que costumava ter aquele hall de entrada, cheiro a cera com a qual era tratada a madeira soalho. Este estava escurecido e empoeirado, e o agradável odor tinha sido substituído pelo bafio da casa fechada, assim como, o suave som oco dos nossos passos na época, soavam agora como o doloroso ranger das tábuas.
Avançámos até à sala. Ela seguia-me de perto, mas eu não tive coragem de me voltar, pois o seu silêncio era perturbador, ela sofria e eu não sabia o que lhe dizer.
Do lado direito, ao fundo da sala estava a grande lareira, e por cima repousava o busto de uma qualquer personalidade que eu desconhecia. Esse busto que me aterrorizava em criança, parecia-me agora ridículo com o seu olhar cego e carregado, permanente.
Do lado oposto da sala permanecia o oratório. Maravilhosa peça de arte sacra. Este oratório seria a razão do nosso retorno á casa, sabia que ela tencionava oferece-lo à capela quando acabassem as obras de restauro. Estava fechado. Do seu interior podia-me lembrar do crucifixo central, em ouro, e das cuidadas pinturas que representavam algumas cenas da vida de Cristo.
Quando me dirigia ao oratório para o abrir, ouvi-a cair de joelhos atrás de mim. Chorava. Aproximei-me, disse-lhe “eu estou aqui…”, e abracei-a. Não me soou encorajador pelo tremor da minha voz, mas por alguma razão surtiu efeito. Ela retribuiu o abraço. E eu repeti, agora mais convicto, “eu estou aqui”.

2 comentários:

  1. Uauh...
    ...os dois meninos dizem palavras tao bónitas xD

    mas nao percebi nada!!!
    inventaram essas histórias a partir de....

    Beijinhos,

    Diana** =)

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  2. Dianinha:
    Eu inventei a história a partir da minha imaginação delirante xD
    E depois o menino Rui decidiu inventar uma outra versão, vista da perspectiva do outro personagem, a partir da minha história...
    Pronto, e foi isto :P

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